terça-feira, 25 de maio de 2010

MANIFESTO NACIONAL EM DEFESA DO TRABALHO DE CAMPO

“Andar e pensar um pouco, que só sei pensar andando. Três passos, e minhas pernas estão pensando”
Paulo Leminski


A Confederação Nacional de Entidades Estudantis de Geografia (CONEEG) está organizando para entre os dias 24 a 28 de maio, através das escolas que constroem, a Semana Nacional de Lutas dos Estudantes de Geografia que abordará a crise em que se passa a educação no âmbito nacional; os problemas referentes a avaliação de curso; a necessidade de nos vincular aos movimentos sociais combativos; além da questão fundamental para um tipo de geógrafo determinado, o trabalho de campo. Para este tema, especificamente no dia 26/05/2010, privilegiará para constituirmos um movimento nacional pela defesa do trabalho de campo nos cursos de Geografia. A luta por trabalho de campo é uma forma de nos unirmos em torno de uma questão essencial na formação do geógrafo, e, a partir dela, pautarmos os demais problemas que encontramos em nosso percurso enquanto estudantes.

Momento fundamental para nossa relação, enquanto geógrafos, com a realidade, o trabalho de campo estabelece esta ponte necessária – geógrafos e realidade – vinculando práticas e reflexões, nossos percursos teórico-metodológicos e, acima de tudo, nosso fazer político-epistemológico.

Político, porque na pesquisa de campo, seja ela individual ou coletiva, não nos deparamos com objetos inertes, sem vida, engessados e neutros, mas sim com contradições e conflitos em ovimento, que permeiam a lógica de uma sociedade que vê o espaço como meio; condição e produto para sua reprodução. Estas contradições e conflitos determinam que toda pesquisa de campo tem uma implicação política, da qual ou tomamos controle e lhe damos direção ou ela nos controla e direciona nosso fazer.

Epistemológica, pois toda prática em ciência expressa determinados discursos e concepções de ciência. Assim, na Geografia, toda prática de campo está imbuída em uma metodologia, em uma forma de fazer Geografia e, conseqüentemente, em uma formação de Geografia. Aqui também, se não tomarmos as rédeas, nossa formação é atropelada pela ditadura das técnicas, do utilitarismo e da produtividade, as quais nos alienam do processo de produção do conhecimento.

Nossos cursos de graduação encontram-se cada vez mais funcionalizados, ou em vista disso, na medida em que o conhecimento se tornou mercadoria e, como tal, moeda de troca para as agências (públicas e privadas) que fomentam a pesquisa, as quais reproduzem um conhecimento acrítico, fragmentado e especializado cada vez mais em cada vez menos. Aqui, está posto um projeto de ensino e de universidade, no qual é desprezado todo e qualquer momento de formação que se dê para além das funções que um profissional deve ter para dar resposta ao mercado de trabalho.

É nesse contexto que reivindicamos a defesa de um trabalho de campo que não tenha um fim em si mesmo, mas que seja um momento de formação e experiência compromissado com outra Geografia e com a construção de outra sociedade. Ao defendermos o trabalho de campo queremos propor uma Geografia comprometida com a práxis, momento dialético, onde teoria e prática se determinam entre si, colocando de lado as certezas e o engessamento do conhecimento geográfico para evidenciar e aprofundar a crise em que se encontra nossa disciplina, nosso fazer e nossa formação.

Lutamos para que haja trabalhos de campo; que tenhamos os custos das viagens (hospedagem e alimentação) pagos pelas universidades – não tornando o trabalho de campo um privilégio para os que podem pagá-lo – por uma estrutura básica de transporte, equipamentos e materiais para nossas saídas. Lutamos pelo fim das barreiras burocráticas que impedem, dificultam ou limitam o trabalho de campo, que impossibilitam a autonomia para a sua realização.

Queremos uma Geografia livre das estruturas funcionalizadoras e produtivistas do conhecimento mercadológico, a fim de podermos dirigir com autonomia nossas ações-reflexões, construindo uma Geografia que esteja realmente em movimento.

Semana Nacional de Lutas dos Estudantes de Geografia
Durante os dias 24 à 28 de Maio
Geografia em Movimento
Avaliação de Curso
Contra a Crise da Educação
Defesa do Trabalho de Campo [26.05]

Geografia em Movimento

Este eixo visa promover nas escolas trabalhos de campo que vão além das práticas tradicionais feitas nas disciplinas ministradas por nossos professores, queremos aqui incentivar a aproximação efetiva da Geografia
com os movimentos sociais/populares e comunitários que resistem, tanto no campo como na cidade, à lógica imposta pelo capitalismo e consequênte mercantilização do espaço. Basta utilizar das lutas de movimentos sociais e populares somente como objeto de nossas pesquisas e nas salas de aula? Qual a grafia no espaço desses movimentos? Como podemos atuar nestes movimentos sem que sejamos meros espectadores?

Estas perguntas surgem nesta 1ª Semana Nacional de Lutas da Geografia com o objetivo de colocar em xeque o tipo de conhecimento que tem sido produzido na academia e pra quem ele serve. Devemos discutir seriamente a possibilidade de ir além da produção teórica academicista, intervindo solidariamente nos movimentos que lutam por uma transformação sócio-espacial subversiva e revolucionária.

Avaliação de Curso

Até que ponto nós estudantes temos voz e legitimidade para participar efetivamente dos planejamentos e decisões pertinentes ao nosso curso? Dificilmente somos ouvidos ou levados a sério nos espaços em que possuímos algum tipo de representação, sendo que a participação dos estudantes é fundamental em tudo que diz respeito ao processo de ensino-aprendizagem. Temos muita dificuldade para fazer uma avaliação séria de nossos cursos e exigir mais qualidade junto aos departamentos. Devemos questionar o conhecimento produzido, a estrutura física que nos é oferecida, o comprometimento com uma análise geográfica totalizante que não seja voltada para o mercado, a representação estudantil, a qualidade e quantidade dos trabalhos de campo, entre várias outras questões que afetam nossa formação como geógrafos. Neste dia pretende-se que nós, estudantes, debatamos os rumos que nossos cursos vêm tomando em diversos aspectos políticos: questionar de que lado está a Geografia que é ensinada e pra quem ela serve, bem como a participação e posicionamento dos departamentos nas políticas das universidades.

Crise da educação universitária e a Geografia

Desde seu primeiro mandato Lula vêm aplicando de forma fragmentada todos os ditames do Banco Mundial para a educação que seu antecessor não havia conseguido. Embalado na demagogia e assegurado pela repressão editou medidas provisórias, decretos, portarias, instruções normativas e leis, que instituíram,
no âmbito da chamada “reforma” universitária, as PPP’s, a Lei de Inovações Tecnológicas, o SINAES, o PROUNI, o REUNI e etc. Nesse contexto os cursos de geografia, assim como outros cursos ligados à licenciatura têm sentido de forma especial o peso de tais medidas. Uma das maiores provas disso tem sido o avassalador avanço da chamada “educação à distância” (UAB, UNIVESP e etc.) nestes cursos. Mas nada disso tem passado “em branco”, sem a resistência de todos aqueles que, desde o início ou no decorrer da luta, enxergaram nessas medidas (assim como nas demais “reformas” trabalhista, sindical e previdenciária) um verdadeiro ataque coordenado à educação pública gratuita.

Com o objetivo de garantir que a geografia não fique fora dessa luta devemos debater em nossa “Semana”, sobre a atual crise da educação superior e os seus reflexos diretos e indiretos em nosso curso.

À luta! Cobremos decididamente a permanência dos nossos direitos; por melhor formação; por mais e melhores trabalhos de campo; por melhor orientação nos Trabalhos de Conclusão de Curso; por laboratórios; por mais bolsas de pesquisa; pela contratação de professores e funcionários efetivos!

Trabalho de Campo

O trabalho de campo é um momento fundamental na formação em Geografia. Porém, não qualquer tipo de campo, mas sim aquele voltado para uma formação político-epistemológica, na qual não se faz Geografia sem se fazer política e não se pensa as múltiplas geografias fora dos discursos políticos que elas trazem consigo. O trabalho de campo é, portanto, momento de práxis geográfica, pois nos faz entrar em relação com a realidade que estamos inserido, relação onde a teoria e a prática se confundem e se determinam; movimento ideal para um conhecimento não engessado, crítico e transformador.

É deste momento formador que nossas faculdades, via políticas mercadológicas para a educação, estão nos restringindo, seja através do não custeamento das diárias necessárias para pagar custos de hospedagem e alimentação, ou mesmo da falta de infra-estrutura básica de transporte e da falta de materiais e equipamentos necessários para uma saída de campo. Nossa reivindicação é pelo fim dos empecilhos e trâmites burocráticos que impossibilitam ou restringem nossas saídas à campo, bem como por autonomia para dirigirmos e pensarmos este momento em nossas escolas, para, a partir dele, refletimos que Geografia estamos fazendo.

Fazemos um chamado para que no dia 26 de maio organizemos nossas escolas em torno do debate/ação nacional sobre o trabalho de campo para refletir a geografia que temos e a geografia que queremos.




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