sábado, 8 de maio de 2010

Surge um incomodo

Texto obtido no grupo de discução da EREG-SE.

“Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.”
(A flor e Náusea - C.D.A.)

Surge um incomodo. Penso ser necessário apontar, já de principio, que não pretendo responder nenhuma das perguntas que esse incomodo me suscita, mas talvez fazer com que surjam mais perguntas ainda e uma principal: que Geografia desejo?

Nos últimos séculos a ação antrópica tem transformado a superfície terrestre. Essas transformações sofridas alteram tanto o homem quanto a natureza e fazem ocorrer mudanças no espaço geográfico. Essas transformações são a base para que a ciência Geografia se mova. Um movimento em busca de entender o que se modifica no Espaço Geográfico. O que ergue a questão: o que é o Espaço Geográfico?

As concepções de Espaço Geográfico partem da Física Newtoniana: Espaço Absoluto e Espaço Relativo. O Espaço Relativo está intrinsecamente ligado a matéria, ou seja, qualquer mudança material altera o Espaço Relativo, logo, o Espaço Geográfico. Assim a concepção de espaço que tende a prevalecer hoje na Geografia é o Espaço Relativo, pois estando em uma sociedade capitalista e está tendo como uma de suas bases o trabalho abstrato se faz necessário que o espaço seja uma concretude para uma melhor e efetiva circulação das mercadorias. (Neil Smith)

Se qualquer mudança no concreto muda o Espaço Geográfico e as mudanças no concreto são feitas a todo o momento por eras será o espaço ontológico? O espaço como ontologia cabe no Materialismo Histórico?

Para entender essas transformações se fazem necessário um rol conceitual que de conta filosoficamente dessas mudanças. Daí a importância de se ter uma “História do Pensamento Geográfico” e disciplinas que abarquem temas como teorias e métodos dentro da Geografia.

Porem como aponta sabiamente Einstein: “é necessário cada vez mais lançar-se à critica desses conceitos fundamentais, para que não possamos ser inconscientemente governado por eles.” (Einstein apud Neil Smith)

Dessa maneira há mudanças conceituais que fazem com que seja necessário criar técnicas para expressar toda a abrangente gama de ações antrópicas e naturais causadas no espaço geográfico. Assim a cartografia e o geoprocessamento são técnicas importantes que todos os geógrafos têm de saber utilizar com maestria. Além de outras ferramentas fundamentais como o trabalho de campo, a ferramenta mais importante, dentre todas, para o geógrafo.

Vide toda a necessidade de entendimento da natureza (e seus recursos) e da sociedade, a Geografia é uma arma fundamental para a dominação e controle de áreas, lugares e territórios. Assim a Geografia vem sendo apropriada pelo Estado e por empresas (geomarketing) para garantir a expansão e manutenção do capitalismo .

Com a Geografia Critica surge uma possibilidade de romper com esta apropriação indevida do Estado e das empresas sobre a Geografia.

A geografia definida como clássica acreditava na forma do Estado, como civilizatória. O desenvolvimento da Geopolítica, especialmente, tinha este caráter, o que, inclusive, incluía uma análise Positiva do moderno processo de colonização. Então, a relação da Geografia com a pratica passava pela mediação do Estado.

Uma Geografia contemporânea, que atualiza uma Geografia Critica – de presença anarquista e subversiva, portanto, não estatistas – questiona a economia e o Estado. Esta é a grande aquisição destes novos tempos: generalizar a critica do processo de desumanização, inerente às ações econômicas e estatistas. Portanto, a relação com a prática já não é, necessariamente, sob a mediação do Estado. (p.60)

Mas ficam duas perguntas: É suficiente apenas questionar o Estado e a economia? É suficiente apenas generalizar as criticas a desumanização?

A Geografia, no âmbito da política, está na estratégia e assim é capaz de planejar ações práticas que tenham real efetivação de subversão e, assim, ajudar a transformar não só o espaço geográfico como também a sociedade como um todo. Visto por esse âmbito será esse o motivo de o Estado de São Paulo está transformando a disciplina de Geografia no ensino médio algo facultativo?

É possível ver que uma nova concepção de Geografia surge. Mais subversiva e mais atuante, visando uma mudança social. Para alguns ainda é algo abstrato e não muito amadurecido, mas para outros está semente, plantada há algum tempo, brotou e logo começará a dar flores. Virá a incomodar muita gente?

Referências:
1- Ver artigo do Elvio. Por referência.

2- Ver Yves Lacoste (“A geografia serve para se fazer a guerra.”) e Neil Smith (“Desenvolvimento Desigual.”)

3- Damiani, Amélia Luiza. A Geografia que desejamos. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, Nº 83, Dezembro de 2005, p. 57 a 90.

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